Decidir sem ter certeza: o desafio de lidar com a própria dúvida

Notal: Este é um relato pessoal. 
Não substitui apoio psicológico. Se estiver em crise, busque ajuda especializada: você não está sozinho(a).

Às vezes, o gesto parece simples: confirmar presença, recusar um convite, escolher um prato no cardápio ou até decidir se vai ou não sair de casa. Mas para quem tem uma mente que pondera demais, cada escolha é uma travessia.

Não é exagero. É um tipo de desgaste invisível – um cansaço que vem de dentro, provocado não pela decisão em si, mas por tudo o que ela carrega: o medo de errar, de parecer incoerente, de ser mal interpretada. E por trás disso, quase sempre, uma pergunta silenciosa: “Será que vão me entender?”

Por muito tempo, achei que decidir era algo que vinha com clareza. Uma espécie de sinal interno de que você está “fazendo a coisa certa”. Mas a vida real não é assim. Na prática, tem dia que escolho por eliminação. Outros, por intuição. Às vezes, por cansaço mesmo. E percebi que isso não me torna menos consciente – só mais humana.

Entre o sim educado e o não engasgado

Nos pequenos dilemas do dia a dia, essa indecisão se apresenta como uma dança desconfortável: vou por vontade ou por obrigação? Recuso com sinceridade ou invento uma desculpa para suavizar?

Já perdi as contas de quantas vezes aceitei convites, tarefas ou responsabilidades por medo de magoar alguém. E saí de casa deixando um pedaço de mim no sofá, desejando que tivesse chovido – não lá fora, mas dentro de mim: aquela chuva necessária que lava o excesso de expectativas e permite que floresça apenas o essencial.

Com o tempo, comecei a observar esse padrão: dizer sim quando queria dizer não, depois ficar remoendo a decisão, me julgando por não conseguir sustentar o que escolhi. Como se não bastasse a dúvida antes, ainda vinha a culpa depois. Um ciclo cansativo.

A ideia ilusória da escolha perfeita

Muito disso vem de uma ilusão: a de que existe uma escolha perfeita. Aquela que vai agradar todos os lados, manter todas as pontas amarradas e garantir tranquilidade para sempre. Mas isso é utopia. Toda escolha envolve renúncia, risco e imperfeição. E não tem resposta imune à dúvida.

Aceitar isso foi transformador. Entendi que posso agir com insegurança e respeito ao mesmo tempo. Que um “não sei ao certo, mas vou por aqui” também é válido. Que esperar por certeza absoluta me imobiliza. E mais: que algumas decisões só se revelam boas depois que a gente caminha com elas por um tempo.

O que muda quando a gente para de buscar perfeição

A grande virada foi quando percebi que escolher com verdade é melhor do que escolher com garantia. Que eu não preciso me justificar o tempo todo. Que posso dizer não de forma gentil, sem inventar desculpas. Que posso mudar de ideia sem me sentir volúvel. Que posso ir a um evento e ainda assim não abrir minha casa em troca. Que posso cuidar do outro sem abandonar a mim.

Foi quando abandonei a busca pela escolha ideal que as decisões começaram a pesar menos. Porque ali, no meio da dúvida, aprendi a confiar mais em mim – e menos no julgamento que (talvez) nem exista.

Conclusão: decidir é viver em movimento

Hoje, não espero mais estar 100% segura para agir. Respeito o meu tempo, mas entendo que clareza às vezes vem depois do passo – não antes. E tudo bem.

Decidir, afinal, é isso: viver em movimento. Trocar a busca pela certeza por um pouco mais de escuta interna, flexibilidade e autocompaixão.

Porque não é sobre ter razão sempre. É sobre se permitir existir com honestidade – mesmo quando a dúvida caminha junto.

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Nota: Este conteúdo reflete vivências pessoais e não substitui terapia profissional. Em crises, busque ajuda: CVV (188), CAPS ou emergência (192).

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